sexta-feira, 3 de abril de 2009

Medalhas de bronze



Não tendo como variar a rotina das férias prolongadas, fui praquele ginásio hoje novamente. As horas me deixaram tão fatigado... E busca bola, e pega bola, e cai, e levanta. E busca mais bola. E cai mais uma vez. Pausa. O treino masculino acabou.
Hora da emoção. Com quatro profundas pedaladas consigo ligar a moto. E recordo que não tenho carteira, tampouco experiência com motos. Pequeno ódio pelo mais velho da família que não me ensinou a dirigir. Lembra-se da personagem de “sanidade que construiu o insano” em “Espelho da vida”? O próprio. Quer saber? Vamos arriscar! Sem capacete, sem juízo, sem destreza o deixo em casa. Volto para o ginásio.

Treino feminino. Fico na expectativa de tirar algum proveito. Treinar defesa, ou passe, ou saque em uma rede tão baixa que mais parece jogar tênis. Fico mais por pedidos de um amigo, e também para ver mulheres jogando. Isso sempre me excita, com educação moralista, é claro. Todas sentadas, eu de pé, conversando sobre medalhas. Quantidade, pois qualidade não se discute para ocultar a vergonha de terceiros lugares.

- Vinte oito medalhas de vôlei e dois troféus.

Semblantes assombradamente indagadores...

-Ah, só? Vinte oito de vôlei. E de que são as outras?

Uhm... Pensei alto. Deixei subentendido de fato.

-Umas aí.

-Aposto que é de melhor aluno, melhor isso, melhor aquilo...

Risos sem graça. Como se o pudessem ser, ou mesmo serem engraçados. Deveria ser apenas risos, sem adjetivos. Risos, nada mais.

-Acertou.

A sinapse das recordações veio tão rápida que sequer abriu os canais rápidos de sódio. Logo se foi a memória dos dias de premiação em que eu aguardava, ansiosamente, receber a medalha de melhor aluno do colégio.

Retorno a um momento epifânico do texto.

-Aposto que é de melhor aluno, caderno mais organizado, letra mais bonita, e aluno mais bonito do colégio.

Pelo melhor aluno, recebi a medalha. Pelo caderno mais organizado, esperaria. Pela letra mais bonita, concorreria. Agora, aluno mais bonito do colégio... Surpreso com tal categoria!

E eu que sempre me vi com um perfil de sujeito de bulling.

Risos. Apenas risos, sem adjetivos.

Um comentário:

  1. A quem acabou de ler esse texto, peço que leia de novo esse trecho:
    "Risos sem graça. Como se o pudessem ser, ou mesmo serem engraçados. Deveria ser apenas risos, sem adjetivos. Risos, nada mais".

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