sexta-feira, 3 de abril de 2009

Dividindo o egoísmo 2



Hoje eu fui a uma Lan House. É triste não ter internet em casa para poder fuçar o Orkut alheio. Ver novas fotos ou mesmo criar o blog. Já tenho tantos textos prontos. Mesmo assim fui. Talvez porque saberia que a encontraria lá.

Peguei o número 08. Olhei para um cantinho da sala, onde a parede encontra com a outra formando um ângulo reto. Ela sempre fica ali. Ontem ela estava ali. Hoje não.

Ainda assim, recolhi o sentimento amargo e pensei enquanto ser auto-limitado: basta-me para ser completo. Suas palavras fizeram história em mim. Vê-la falar sobre o livro que discute a fugacidade do subjetivismo foi maravilhoso. E ela jura que está tentando tornar-se uma pessoa melhor sem saber que sempre foi. Vive dizendo, e diz vivendo, que não sabe por que garotos inteligentes a procuram. Sempre se acha inferior, como se a inteligência fosse superioridade. Busca-se a pessoa e, certamente, você não precisa ler “Quem me roubou de mim”. Eis seu resgate.

Um abraço por trás. Ela colocou as mãos em meu peito deslizando por meus tórax e abdome. Sempre reajo quando alguém encosta na minha barriga. Aperto um ombro de encontro ao outro como se me fechasse para o mundo. Incomodam-me mãos carinhosas em busca de algo prazeroso deslizando sobre minha barriga acentuada. Porém hoje, senti-me quisto, querido, não deixando de achar-me gordo.

Era ela.

-Te liguei faz um tempinho.

-Eu estava trabalhando.

-Mentira. Passei na porta do seu serviço e já estava fechado.

E ela me contou uma história de tal aniversário de incerto funcionário. Abaixaram as portas, mas as luzes permaneceram acesas com todos trabalhadores-convidados lá dentro.

-Tô com fome!

-Você sempre está com fome.

-O que você me sugere comer? Tô com muita, muita fome.

-Comida.

Esqueci aquele senso de humor ridículo que ainda arrancava meus risos sinceros.

-Você?

-Engraçadinho. – Ela também se esquecera do meu senso-de-humor-mais-ridículo-ainda.

-Você está de moto? Hein?

-Respondi no MSN.

-Não ta abrindo.

-Problema seu. Respondi no MSN.

No fundo eu sabia que não estava funcionando. Aqueles computadores nunca funcionam, talvez por ser a Lan House mais barata da cidade. Respondi “não” sem perguntar o porquê.

-Idiota! – escreveu no MSN.

Ela leu a resposta. Agora posso falar a verdade.

-Por que você perguntou?

-Porque queria ir na minha mãe.

Um beicinho tão fofo se fez naquela boca, como criança pedindo algo vital.

-Estou de moto – falei em palavras.

-Idiota – respondeu-me em palavras. Podia ter me xingado no MSN, mas não.

-Vou embora. Tchau.

-Já to saindo também.

E lá fora ela me xingou de idiota mais uma vez ao ver que eu realmente estava de moto.

Que sentimento terrível me incomodou naquele momento. Algo fraterno mexeu comigo. A imagem de minha irmã e sua moto.

Talvez ela tenha jurado, jurado de pé junto, que estava disposta a repartir o egoísmo comigo.

Hoje, ela não se sentou no computador das paredes em 90 graus. Ela estava no número 07.

Um comentário:

  1. Ai é tão lindo... Leio todos os dias... Obrigada por me fazer sentir tão importante... hehehehehe
    bjuuuuuuuuuuu

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