sexta-feira, 3 de abril de 2009

Miau



Uma vez eu tive um gato. Ele se chamava Miau. Não que isso faz tanto tempo para o nome do meu gato refletir a minha ingenuidade e falta de criatividade de criança. Eu não era mais criança. Tudo tem uma explicação, exceto perguntas filosóficas como “Quem sou eu?”, “O que é o mundo?” ou “Por que não gosto de gatos?”.

Não fiquei traumatizado com a morte do gato que comeu minha janta, porque ele ainda vive. Não achei saco ou coisa parecida naquele texto. Será esse, então, o meu trauma? Não, acho que não. Eu o amava tanto. Não o fdp que roubou o meu bife e degustou do meu purê de batatas, mas o Miau. Ele era cinza como todo gato comum. Não era persa, não era bonito. Era comum. Nasceu na rua, morou em minha casa, de certo morreu na rua. O fato de ele morar em minha casa contradizer o período anterior não passa de “se alimentou em minha casa”. Porque gato é traiçoeiro apesar de fofinho. Só se aproxima quando acha que você pode alimentá-lo com um prato de janta. Maldito!

Mas Miau era assim, só que na época eu não havia pensado em tantas teorias, e a filosofia não me abrira a mente para perguntas tão-sem-respostas. O que mais me chamava atenção nele, sobretudo por ser comum, era porque todas as noites eu o levava ao meu quarto e ele olhava tudo como se fosse a primeira vez. Cada canto, cada armário, cada detalhe da colcha da cama.

Dizem que as crianças são eternas filósofas, pois são capazes de se admirar com qualquer coisa, ainda que repetida. Gatos também. É uma pena que Miau apareceu quando eu tinha 18 anos, quando deixei de ser filósofo para sentir raiva de gatos.

Um comentário:

  1. Começou engraçado, ficou mais, depois ficou sério e bonito. Aí terminou sério e engraçado.

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