sexta-feira, 10 de abril de 2009
Mel
Quando jovem, acreditei que iria me ligar a várias pessoas. Mais tarde na vida, percebi que só aconteceria algumas vezes. E às vezes.
Ela era tão doce quanto o mel. Lembro a primeira vez que conversamos. Assunto qualquer, talvez apenas risos nas primeiras palavras. Um amigo de cursinho, que entendia de acupuntura, nos apresentou. Nada formal, pois eu já a conhecia. Estudávamos juntos há seis meses, e sequer trocávamos “Bom dia”. Algo tinha que mudar.
Todos os dias eu a observava, ali, no fundinho da sala. Sempre com uma lapiseira na mão e folhas na sua vista. Provas, questões. Desistira de ser veterinária para ser médica. Mas não foi naquele ano ainda. Mais seis meses seguiram e consagramos o melhor Extensivo do colégio. Mesmo sem a minha aprovação. Mesmo sem a dela. Seguiu uma tal específica que fizemos juntos. E fizemos novos amigos. Mas, sem dúvida, o curso foi específico para a consolidação da minha admiração por ela.
Futuro incerto, dependente de bolsa de estudo. Vesti uma máscara que esconde a vergonha e ganhei mais seis meses com ela. Na mesma turma. Nesse momento já éramos amigos. Eu consegui sair do meu mundinho, e o mesmo fez ela. Semi 09 agora, para os últimos seis meses juntos.
Todos invejavam nossa amizade. A princípio nada a ver: ela, no tão-tão-fundo; eu sempre tão-à-frente. Nos intervalos, lanchávamos barrinhas de cereais juntos. E ríamos de seus sonhos tão peculiares. Sempre únicos. Dignos de uma pessoa com uma inteligência fora do comum. Dizem que inteligentes são aqueles que conseguem estabelecer raciocínios mais ilógicos possíveis. E isso ela fazia sempre, sem titubear.
Havia um momento da semana em que sentávamos lado a lado. As aulas de inglês eram as mais divertidas possíveis. Às vezes resolvíamos outros exercícios, às vezes conversávamos sobre o dia-a-dia. Mais o segundo às vezes do que o primeiro. E não sentia nenhum pesar em falar da nossa vida, ou da dos outros. Era o nosso momento de fofoca. E só tínhamos esse.
Um dia ela estava triste. Foi seu único dia negro que eu lembro. Pensara em desistir de seu sonho e voltar à capital federal. Voltar para longe de mim. Comecei a dar conselhos para melhorar seu estado de espírito. E também para aliviar minha sensação de futuro abandono. Não adiantou. Ela passou no vestibular. Ela se foi. Futura médica. E só sei que pela primeira vez não me senti abandonado. Senti que cedo eu que iria embora. E um conforto intenso tomou conta de mim, naquele momento.
Hoje estou ao sul porque cedo fui embora. Ela ali perto de mim, não tão longe. Lado e outro lado. Mas só nos vemos nas férias. Contudo, a liberdade daqueles dois mundos que, um dia, se fundiram é imensa que não há mudança de hábito. De sentimento. Cada um nutre aquilo que sente pelo outro para sempre e mais um dia. Sinto falta. Ela também sente. E assim nos entendemos e endereçamos a nossa vista a uma caixa postal de esperança. Enquanto longe, o MSN torna nossas noites mais alegres. Nossos dias mais claros. É tão bom conversar com ela. É um faz-me bem repentino.
Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar.
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Amei...fui relembrando aqueles dias!
ResponderExcluirLembrei até de vc bravo comigo pq eu disse que vc tinha cara de jogador de volei...mas essa frase nao era minha, era da tia que limpava a sala...quando ela disse isso, vc se achou o último biscoito do pacote...comigo, ficou bravo! Tudo bem, a gente só briga com que a gente gosta de verdade! rsrsrs
Então, tipo assim, só enquanto eu respirar, vou me lembrar de vc, viu?!
bjim.
p.s.: vc continua com cara de jogador de volei...mas, agora tem cara de médico tb! kkkk
Sempre admirei você e a linda amizade que o liga a Mel, mas hj, mais precisamente neste momento lendo esse relato-poesia, sinto-me extremamente emocionada e agradeço a Deus por existirem pessoas como você, que tornam a vida das pessoas que passam pela sua vida mais completas, mais alegres e com mais sentido. Sabe que você é para mim um filho do coração?
ResponderExcluirDeus te abençõe e ilumine os seus caminhos sempre. E que esse lindo amor-amizade não se perca nunca. Um beijo.
Selma Gebrim.