sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mais uma medalha de bronze



Os três filhos ganharam as três bicicletas num único dia. O caçula deveria ter uns 7 anos de idade. Sabia que não sabia se equilibrar e, por isso, usava rodinhas na bicicleta verde. Mas aquela condição o intrigava tanto. Ver a supremacia de seu irmão ao andar já sem as rodinhas. Sem as mãos. Agora, enxergar a própria irmã, sexo frágil, andando sem rodinhas, foi o estopim para uma inveja sem dimensão. Ela não tinha processo fálico para competir com ele. Então ele se sentiu mais frágil que uma menina.

Recolheu o orgulho e foi andar com os irmãos na quadra do colégio de seu pai. Educação rígida. Não saia de casa. Não ia à casa de amigos. Não tinha tantos amigos, pra que visitá-los? Nisso seu pai tinha razão. Então corriam em círculos na quadra do colégio, apostando corridas. O 3º lugar era o máximo que chegara – daí o trauma com quantificações de posições recompensadas com medalhas de bronze. Escondera no mais profundo pensamento que só tinha dois concorrentes para não se sentir diminuto e manter, assim, um conceito do seu melhor eu.

A noite caiu. A tia foi ao colégio avisar que o pai já os esperava em casa para o banho e o jantar. O mais velho ia sem as mãos. A do meio pedalava sem rodinhas. E o caçula os invejava, olhando a mediocridade de sua condição em quatro rodas. Porém a rampa era íngreme e o mais velho não teve mãos para segurar a bicicleta que foi desgovernada em direção a três vasos caros de plantas baratas. A terra cobriu a rampa verde.

-O papai vai nos matar!

Sabia que meu irmão estava certo. Papai nos mataria. Mas eu só não entendia o motivo de eu me encaixar na surra. Foi quando presenciei o verdadeiro espírito de equipe pela primeira vez. Corríamos os três em círculos na quadra. Talvez eu nunca tenha chegado em 3º. Talvez era uma corrida em que o 1º sai e chega. Mãos se batem A 2º sai e chega. Mãos se batem. E depois eu, saio e chego. Então me conformei em apanhar.

Meu irmão foi o primeiro a ir chorando para o banho. E ninguém mais chorou naquela noite. No dia seguinte, bateu-me uma vontade de chamar meu pai para pedalar. Ele precisava entender o que é espírito de equipe.

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