sexta-feira, 3 de abril de 2009

Amor Grand Hotel



Ela saiu correndo da sala, aos prantos.

Todos achavam que rolava um clima entre a gente, inclusive eu e ela. Mas nunca quisemos assumir nada, talvez porque eu pensava noutra garota. Ela talvez em outro garoto. Nunca assumimos nada porque não havia o que assumir. Sem beijo. Apenas abraços apertados. Carinhos na biblioteca com direito a bronca do guarda. E dissemos tantas coisas. E fizemos tantas coisas. Exageramos a dose, subindo e descendo as ruas daquela cidade ainda estranha pra mim. Tudo aquilo era novo e temporário. Sabia que não permaneceria muito tempo ali. Seis meses, no máximo.

Uma amizade jamais vista. Eu não tinha amigos na sala. Conversava com todos, porém não me sentia no direito de contar minha vida a outrem. Algumas confidências escapavam com um ou outro. Íamos, todos os dias nos intervalos, tomar um creme de uva, o meu preferido. Às vezes eu e ela. Outras vezes ela, eu e mais alguns colegas.
Possuía um encanto específico. Um brilho único, mistura de mulher adulta com criança querendo descobrir o valor de um beijo. Meninas sempre me atiçaram. Mulheres sempre me excitaram. Já não sabia qual perfil preferia. Sempre exagerada nos sentimentos. Ou eu, sempre limitado. Não sei ao certo. Só sei que ela amava. E amava com tanta vontade que muitas vezes me sufocava. Não porque eu não queria, mas porque eu não podia. Achava pouco tempo para uma estória. Mas ao menos haveria uma estória.

Tantos dias juntos nos aproximaram. Muitos ciúmes e expectativas foram criados por nós. Professores diziam, colegas diziam. Mas nada. Nada acontecia. As brincadeiras iam ao limite do desejo. E o vice-verso também ocorria. De tal modo que não mais sabíamos quando era brincadeira, quando era desejo. Se havia limite. O que era o limite.

Certo dia, cansei de ser chamado de “pamonha” – apelido que me parecia, ao mesmo tempo, provocante e amoroso. Eu não era bobo. Nunca fui. Apenas não queria enxergar o óbvio. Eu não estava apenas gostando da situação. Gostava dela a ponto de qualquer trabalho em grupo desejá-la no meu, a todo custo. Quando não consegui, uma única vez, lamentei a perda da companhia e tive que engolir uma discussão sobre acreditar ou não em Deus, na aula de Teologia. Era a pausa da amizade. Mas ela teve seus motivos. Eu os dei. O escuro daquela sala do andar de cima da faculdade foi expectador de um beijo apaixonado. De um beijo salgado.

-Isso é pra você parar de me chamar de “pamonha”. Não é o que você sempre quis?

-Pamonha!

Ela disse a única palavra proibida. O beijo aconteceu. Somente o beijo, acompanhado pela lágrima que chorou seus olhos.

-Por que você está fazendo isso comigo?

Ela saiu correndo da sala, aos prantos.

2 comentários:

  1. Não sei que te falar.... Sinceramente...
    Só que nada foi claro pra mim, assim como que pra vc também não. Eu sempre fui de atiçar, excitar como vc disse, sem medir as consequencias. Muitas vezes eu não fazia com intensão de nada. Aliás, nunca foi com intenção de nada... Eu só gostava de ver o circo pegar fogo. Talvez se vc deixasse a máscara cair, e chegasse em mim pra resolvermos isso eu iria correr. talvez não, COM CERTEZA. Até hj não sei dizer o que é. Não consigo imaginar agente junto (so sonhei ne, rs) mas gosto demais de vc. TE AMO MUITO. Pra sempre lembrarei de vc, e pra sempre permanecerei sem saber o que é e o que foi tudo isso....

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