sexta-feira, 10 de julho de 2009

A procura da felicidade



Às vezes sou assim, escrevo tanto sem dizer nada pra quem não sabe do que estou falando. É que me sinto tão bem quando observo meus vácuos. Eles aliviam o pouco da claustrofobia que sinto. Não que minha capacidade intelectual seja maior do que a sua. Apenas estou poupando energia, enquanto você dispõe do mínimo que lhe resta. Um aviso: na vida geralmente acontece um ou outro acoplamento de reações. Mas nem sempre isso é vantajoso.

Quem nunca esteve andando pelas ruas e, num desses momentos de introspecção, se viu menininho que ficava olhando a formiga carregando inúmeras vezes o seu próprio fardo nas costas? E se admirava com aquele trabalhadorzinho franzino que quase acabara de pisotear? Algum mais coringa ainda pára, encurva-se e admira o caminhar em trilha. Audacioso sopra a folha que está em suas costas só pra ver o desespero da formiga. Toda cambaleada. Toda desconcertada. Toda desiludida da felicidade de chegar ao formigueiro. Achando graça no maior exemplo de desgraça mínima, também há aquele que mata. Será que aquela formiga não tinha planos?

Após esse dia, deparei-me (novamente) com uma das maiores descobertas da minha vida. E olha que foi aos 23 anos. Ao som mental de “Slow down, you crazy child. You’re so ambitious for a juvenile”, percebi que a tristeza nos mostra que a felicidade existe. E não era como eu encarava a vida, sempre ou preto ou branco. Ela me apareceu num tom de cinza. Era uma tal rota que levava ao sono, à calmaria, à felicidade. Mas era algo tão instantâneo. Bastava unir alguns elementos químicos nas páginas seguintes pra relembrar toda uma vida de tentativas e erros simplificados em “Desculpa, você é legal, mas falta afinidade”. E lá iam as moléculas na chuva dourada, depois de um ciclo de toda uma folha carregada nas costas.

E a professora japonesa que me ameaça deixar de exame citou a então Serotonina, a “molécula da felicidade”. Disse vir de uma reação de descarboxilação de aminoácidos. Algumas daquelas trilhas macabras que assombram meu caderno. Rotas enzimaticamente corrigidas. Não culpo a japonesa por confundir as ases. Se não sabe, não me complique. Entretanto, quando comecei a estudar, percebi que, justamente essa rota, inicia-se com um aminoácido essencial. Meu organismo não o produz.

Continuo procurando um alimento rico em triptofano para não mais ser pisoteado.